Imagine uma adolescente de 13 anos em uma turma de 45 alunos. Já meio encurvada por causa da timidez, no início do ano passava o recreio sozinha por se sentir deslocada. Pelo motivo de não ter amigos no colégio, queria sair de lá, mas, duas colegas se aproximaram e fizeram amizade.
Pense que, após o término do ano letivo, depois de passar pela experiência de ficar em recuperação em Matemática, com medo da reprovação, ganhou o melhor presente de sua vida, uma compensação, pensou ela, por tudo o que passou naquele período de 7ª série: um gato siamês. Um companheiro, alguém que sem precisar pedir permissão entrava em seu quarto e se acomodava em seu colo ou se sentava ao seu lado. Silencioso, como se compreendesse aquela fase tumultuada de uma não mais criança e ainda não mulher, tornou-se uma agradável companhia.
Já nos anos seguintes, fez a menina se divertir muito. Durante as lições de Desenho Geométrico, quando parava de desenhar para ajeitar a régua, ele dava tapinhas no lápis para prosseguir, como quem diz, “termine logo isso e vamos brincar”. Ou quando a Matemática se tornou novamente a vilã, na hora da tarefa, com a apostila aberta, simplesmente esparramava seu corpo sobre a matéria a ser estudada, evitando que sua dona estudasse. Também em seus frenesis diários, se pendurava na cortina de renda e subia até o teto, igual a um macaco.
Gostava de brincar com objetos simples. Uma bolinha de papel era brinquedo barato, mas muito divertido. Ficava horas entretido e algumas vezes, miava pedindo para alguém brincar juntamente.
O gato sentia cada vez que sua dona estava chateada. Com seus grandes olhos azuis, expressivos, olhava-a, parecia ter um enorme ponto de interrogação sobre a cabeça, assim como nas histórias em quadrinhos, sem compreender o que era aquilo, mas sabendo que deveria se aproximar para tirar aquela dor. Ele sempre fazia isso quando sua amiga entristecia.
Ou então, naqueles dias chatos de cólica, prontamente sentava em seu colo e só saía quando a dor aliviava. Parecia saber o momento certo. Depois, dormia como a se recuperar do esforço e retomar sua energia. Às vezes alguns medos infantis ressurgiam, dormir sozinha era difícil, mas lá estava seu amigo para adormecer junto e garantir bons sonhos.
Ela sempre falava dele para os novos amigos e por conta disso, mandavam abraços, beijos, afagos, agrados e lembranças ao gato. Conheceu outras pessoas que também adoram gatos e fez com que alguns que não gostavam dos pequenos felinos, os vissem com outros olhos e passassem também a admirá-los.
Reflita agora que esse gato viveu 17 anos e por todo esse tempo foi um grande companheiro. Imagine o sofrimento de perder o melhor amigo. Mesmo que você não goste de animais, que nunca tenha convivido com um diariamente ou ache um exagero por ser somente um animal, enquanto muitos humanos sofrem, entenda, é melhor amar demais do que maltratar qualquer ser.
Agora, a mulher tem quase 31 anos, com a maior parte da vida acompanhada pelo Betinho. Uma pessoa já adulta, mas que sente um grande vazio porque não tem mais seu companheiro que tirava a dor. Com muito mais amigos, mais segura e confiante, porém sem o amigo que mandava a tristeza para bem longe. Não entende as pessoas que dizem, “ah, mas já estava velhinho”, como se tivesse que se conformar, pois quanto mais tempo passamos com alguém que amamos, mais queremos tê-lo por perto.